CONSPIRAÇÃO DO TEMPO

Nenise, ao vasculhar a gaveta do armário e se deparar com a cópia da pesquisa que ali repousava, há exatos dez anos, disse:


– Foram trinta dias de intensa dedicação e de árduo trabalho. E na hora da verdade, o sonho ruído.
– O tal concurso? – perguntou o esposo.
– Ele mesmo. Ruído o sonho de ser a vencedora, e também ruído o sonho da moradia própria. A grana do prêmio daria para comprar uma casa e tanto.
– É verdade. Mas desligue a luz para que possamos dormir. – enfatizou o esposo.
Não distante dali, o senhor Lord, que conversava animado com a família, dizia que estavam a um passo de se mudarem para Bolas.
– É um outro mundo, irão conhecer! – afirmou ele com empolgação.
– E o que está faltando, papai? – perguntou a filha de doze anos de idade.
– Apenas uma canetada, minha filha! Apenas uma canetada!
– É verdade que ira dirigir a Gorag?
– É verdade sim.
A esposa, que participava eufórica da conversa, se manifestou.
– E o proprietário do apartamento – uma cobertura que alugaria – já entrou em contato com você?
– Ficou de telefonar ainda esta noite.
– Uma cobertura na Avenida Rian, filha! – disse ela.
– Que chique, mamãe!
Na manhã do dia seguinte, o presidente da Evelen Trelen, senhor Evelen, de setenta anos de idade, ao deixar o refeitório da empresa, caminhando a passos pensativos, atingiu a antessala da presidência. Solicitou à sua secretária que convocasse imediatamente o senhor Vanilo para que comparecesse ao seu gabinete. O senhor Vanilo se apresentando, o senhor Trelen, após mandá-lo sentar. Indagou-lhe que conversa fora aquela que havia escutado no refeitório.
– Que conversa, senhor?
Explicou:
– Ao fazer o dejejum em nosso refeitório, como esporadicamente venho fazendo, escutei de dois moços, os quais certamente não me reconheceram, que houve fraude no concurso promovido pela Trelen, fato ocorrido há dez anos, em comemoração aos vinte anos da empresa.
– Estou lembrando, senhor.
– E o que o senhor sabe a respeito?
– É uma longa história, senhor.
– Estou interessado em ouvir uma curta história, senhor Vanilo.
O senhor Vanilo, após meditar, disse que a conversa certamente deveria ter vindo à tona, uma vez que se cogitou a possibilidade de o senhor Lord, o margo Sr. Lord, ex-empregado daquela empresa. Ir gerenciar a Gorag. Quanto ao mencionado fato, era ele, na época, subalterno desse senhor, e, se caso se manifestasse a respeito da deslealdade que fora praticada, fatalmente seria perseguido.
– Caso se manifestasse a respeito da deslealdade que fora praticada, fatalmente seria perseguido.
– Sim.
– …
– Já havíamos definido, mediante pesquisa, quem seria a vencedora do concurso. No entanto, o senhor Lord apresentou a quinta colocada como vencedora.
– E por que assim o fez?
– Direi o que escutei, senhor. Era essa participante sua amante.
O senhor Evelen, ao ouvir a explicação, balançou a cabeça.
– E quem foram os responsáveis pela avaliação dos trabalhos?
– A senhora Terma, o senhor Droli e eu.
– Ambos ainda trabalham conosco?
– Trabalham sim.
O Sr. Evelen Trelen lhe pediu para que os trouxesse à sua sala.
– Pois não, senhor.
– … Diga por gentileza a secretária que convoque os diretores para uma reunião. – complementou o senhor Evelen Trelen.
A reunião se realizou com a presença dos convocados. O senhor Evelen Trelen, após narrar o fato, disse que faria uma retratação no site da empresa.
– Atitude correta, senhor Evelen. – concordou um dos diretores.
– Quero isso postado ainda hoje.
O senhor Vanilo apresentou as cinco pesquisas classificadas.
– Quem foi o vencedor? – perguntou o Sr. Evelen.
– A senhora Nenise J. Fogaz
– Pagaremos a ela o prêmio, cujos valores serão atualizados na data de hoje. Quero também que seja postada a narrativa do meu conhecimento da fraude, conforme expus. Omitindo, no entanto, o suposto motivo que levou o senhor Lord a assim se comportar.
Às dezesseis horas, uma amiga da senhora Nenise lhe sugeriu, através do telefone, que desse uma olhada no site da Evelen Trelen.
–… Meu Deus! – exclamou, saltitando de alegria e correndo de encontro ao telefone para comunicar o fato ao esposo.
E, não distante dali, um telefonema inverso ao do exposto havia arrasado o senhor Lord.
– O que houve? – perguntou a sua esposa assustada ao vê-lo desfigurado.
– …!
– Não irá gerenciar a Gorag?
– … Não…
– Por que Lord?!


ILUSÃO OU FATO?

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