ESTADO PSÍQUICO

O psicanalista Bastiam dedilhava os dedos sobre a mesa e olhava a esposa que se distraia folheando o álbum de família. Cansado de analisar supostas danosas consequências, ele diz:


– O requinte de crueldade praticado no recente último assassinato parece-me familiar.
– Por que diz isso?
– A mesma crueldade empregada no assassinato da obreira Carmem?
–…
– Durante uma seção de hipnose, Thomas Kali confessou ter sido ele que assassinara a obreira.
A esposa o encara.
– O quê?
– Durante uma seção de hipnose Thomas Kali confessou ter sido ele que assassinou a obreira Carmem.
– Quando confessou isso?
– Há três meses.
Leonora, delegada de polícia, se ergue e pergunta por que tinha omitido. Bastiam abre as mãos a dizer que a ética profissional não permitia. No entanto, a transgrediu a fim de evitar que mais um assassinato acontecesse. Porém, acautelasse impulso, porque, às vezes, aconteciam revelações por aproximação.
– Revelação por aproximação?!
– Deseja saber qual fora a motivação do crime supostamente praticado por Thomas Kali?
– Sim!
– Ódio avassalador.
– De uma criatura cuja vida foi sempre voltada para o bem?
– Nada de extraordinário.
Leonora, meditando, ele aconselha:
– Organize as ideias para não nos prejudicar. Quebrei a ética profissional. E a confissão de Thomas Kali pode ter sido por aproximação.
Seguindo a recomendação do esposo, Leonora designa uma investigadora para apurar a suposta confissão de Thomas Kali. Quatro dias depois a designada lhe apresenta o resultado.
–… Não foi ele. – diz a delegada Leonora após ter lido o relatório.
– Impossível ter sido ele, doutora. Residia na época em Vinhetos. Estudava. E trabalhava na Frene. Enquanto a obreira era assassinada, Thomas Kali estava no curso de computação avançada. Gravações das câmeras de segurança comprovam.
Leonora olha para o envelope que descansava sobre a mesa, depositado pela investigadora, e diz.
– Mas esteve preso.
– Por agressão. Motivo inclusive de ter sido desligado da empresa.
A delegada medita e pergunta o que ela sabia sobre o assassinato de Eunice. Recente última vítima.
– O investigador Sampaio que está à frente do caso.
Conta ao esposo o resultado da investigação.
– Confissão por aproximação como disse. O que significa isso? A mente em transe, às vezes, extravasa impulsos contidos, assumindo equivocadamente fatos em volta.
– Fora desligado da empresa em razão do comportamento violento.
– Procurou-me para se tratar. Esteve com os familiares da obreira?
Ela diz que ele sabia que a divisão dela era a de furtos e roubos.
– Estou de enxerida. – acrescenta.
–… Desnecessário dizer a uma policial que, em crimes em série, sempre há algo em comum entre as vítimas.
– Eunice tinha apenas dezoito anos de idade.
– Continue sendo enxerida. – sugere o esposo.
Leonora visita os familiares da obreira Carmem. Apura o que todos sabiam: uma vida voltada para o bem.
– Inimigos? – pergunta ela.
– Caminhava sem incomodar.
Visita os familiares de Eunice.
– Vivia com todas as jovens da sua idade. No entanto, às vezes, nos confessava algo que distanciava dos desejos das demais amigas. Dizia-nos que desejava seguir a vida sacerdotal.
– Dizia que desejava seguir a vida sacerdotal?
– Sim.
De volta ao esposo, Leonora, antes de falar sobre a particularidade existente entre as vítimas, fica o olhando.
– Obteve sucesso? – pergunta ele.
– Transmitirei ao delegado-chefe dá homicídios o que apurei.
– O que você apurou?
– A segunda vítima Eunice parecia estar voltada para o sacerdócio.
Bastiam medita e diz:
– Será trabalhoso chegar ao psicopata.
– Por quê?
– A insanidade mental desse perfil: desprezo pelo bem, se resguarda. Sempre se mantém um passo atrás da figura física.


ILUSÃO OU FATO?

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