REVÉS DE UMA BRINCADEIRA

Toda e qualquer brincadeira que envolva estupidez, geralmente termina em tristeza. A deselegância do Sinatra custou à vida da irmã da pequena Nantra, uma linda garota de sete anos de idade.

No aconchego da sala de aula, a nova turma escolar sempre demonstrava interesse em escutar do professor Smith, a história da morte de Nantra, ocorrida na Clareira Vênus. Fitava a turma e, respondendo a introdutória habitual pergunta, dizia que não tinha presenciado a morte. Porém, o grupo, ao chegar ao acampamento dos AUTORES da brincadeira, viu que o corpo da garota ainda estava quente. Prosseguindo, contava que eram jovens estudantes universitários: Mori, Tel e ele. Zeleide, Niara e Elma. Respectivamente namorados. A faculdade havia entrado em recesso. Então, aproveitando o ensejo, resolveram acampar por cinco dias na Clareira Vênus. O acesso e a própria clareira eram bem diferentes, ia−se de carro até o tronco Toca da Coruja, e, a partir dali, seguia a pé ou de bicicleta trilha adentro, ladeada por altos matagais. O pai de Elma fizera a gentileza de conduzi-los. Na Toca da Coruja, retiraram as mochilas e as bicicletas da caminhonete, despediram−se do pai de Elma e mergulharam na trilha. Minutos depois, ao atingirem a clareira, armaram as barracas e contemplaram em volta: céu límpido, pássaros e silêncio acolhedor. Árvores e vegetação. Para criarem um clima, conversas escabrosas surgiram: a coruja, sempre instalada na toca, protegia Satã, que por ali se escondia. Corpos das vítimas do “Açougueiro de Zet” estavam ali sepultados... Colheram frutos, tomaram banho de rio e pescaram. Ao escurecer, retornaram para as barracas com peixes tratados. Havia uma linda lua e milhares de estrelas: era espetacular. Quando as nuvens encobriam a lua, era uma escuridão assustadora... Vestiram roupas secas, acenderam a fogueira, colocaram peixes para assar, abriram uma garrafa de bebida e ficaram jogando conversa fora. E, mais uma vez, para apreensão dos medrosos, escabrosas conversas voltaram à baila... Por volta das vinte e duas horas, recolheram−se. Uma hora depois, escutaram uma música ébria, cantarolada à semelhança da voz de uma criança. Ao deixarem as suas respectivas barracas, avistaram, a uns sessenta metros de distância, uma garota com vestes estranhas, vagando, cantarolando e arrastando ao que parecia uma cabeça humana. Sabiam que ali não residia ninguém e não havia ninguém acampado. Fora uma cena assustadora. De repente, numa maior distância, avistaram um casal de gigantes, cerca de dois metros e meio de altura, sem cabeças caminhando por entre a vegetação. As escabrosas conversas ainda pinicavam a mente. Apavorados, pensaram nas bicicletas. Para poupar os pneus, haviam as deixado a uns cem metros... Cascalho era o que ali havia. Correram para lá. Ao chegarem, verificaram que os pneus haviam sido esvaziados. Fugiram para a trilha, porém não tiveram coragem de avançar. Pontos nas matas que ladeavam a trilha balançavam de modo estranho. A ordem fora a de não se separarem. Sem a mínima noção do que deveriam fazer, retornaram para as barracas. O estado emocional, naquele momento, era o pior possível. Estavam no meio da mata, enfiados na penumbra, avistando assombração. Tremiam de medo. De repente, escutaram três disparos de arma de fogo e, momentos depois, ouviram uma voz familiar e aflita pedindo ajuda. Tanho, o dono da voz, surgiu, sem fôlego, e lhes contou o ocorrido: pretendiam pregar uma peça, porém Sinatra queria ir além. Desentenderam−se e, Sinatra, que estava armado, disparou contra eles acertando mortalmente a irmã. Ao chegarem ao acampamento deles, um esconderijo, na verdade, depararam com Sinatra em estado de choque. Havia acidentalmente assassinado a irmãzinha, o xodó dos pais: Nantra, a ingênua assombração, estava morta. A cidade, na época, não tinha mais que sessenta mil habitantes, e aquilo repercutiu de modo doído e traumático. Uma multidão compareceu ao sepultamento da menina. Segundo os quatro restantes participantes da brincadeira, os atores: o casal de gigantes. O propósito da peça seria o de criar uma medonha e ocular lenda para a Clareira Vênus que, presumidamente, seria contada por eles eternamente. Porém Sinatra estragou: esvaziou os pneus das bicicletas. Mascarado e armado pretendia abusar das garotas. Fora o motivo do desentendimento. “Sim.” Afirmava Smith no auge da narrativa. Caso os pneus das bicicletas não tivessem sido esvaziados, escapariam e alardeariam o vivenciado. E estariam certamente, até aqueles dias, sustentando a história como verídica. No entanto, um revés. Uma lamentável e triste história foi o que restou.


ILUSÃO OU FATO?

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