O HOMEM NA TERRA

Haviam estabelecido estúpidos entendimentos. Mexido com particularidades da Terra e do Universo, brigado entre si e se empoderado... Felizes!


Jean, admirando a Lua, ainda avistava descer uma corrente de elos descomunais e tocar em algum ponto do horizonte… Havia telefonado para a mãe.
– Fale, meu filho!
– Onde se encontra?
– No meio do povo, meu anjo. Bebendo e dançando. Com o seu pai não é diferente.
– O que está acontecendo, mamãe?
– Então não sabe?! A Lua, logo, logo será puxada!
Em busca da verdade, correu para o interior do apartamento e, no seu notebook, observou, na postagem confiável e recente, que a corrente de elos descomunais tinha extremidades afixadas na Terra e no solo lunar.
– …!
Escutou o pipocar de fogos de artifícios, retornou para a área livre e, do peitoril, além de avistar a queima enriquecendo os céus, viu que os milhares de apartamentos em volta estavam iluminados e em festa.
– Viva o poder dos homens! – gritavam os homens.
– Viva o poder das mulheres! – gritavam as mulheres.
– Viva o poder dos gays! – gritavam os gays.
– Viva o poder…
Retirando as vistas do cenário festivo, digitou no aparelho celular o número do telefone da namorada e, assim que ela atendeu, perguntou onde ela se encontrava.
– Com os meus familiares, Jean!
– Dá para diminuir o volume dessa porcaria de som?
– Impossível. Estamos em festa. Venha juntar−se a nós, querido. Pois logo, logo, a Lua será puxada.
– Rit?
– Diga, amor!
– Parece que você está saltitando de alegria.
– Igual a milhares de milhões, querido… Os meus primos chegaram, Jean! Trouxerem apito, caixas de uísque e salgadinhos. Irei recebê−los. Não querendo nos dar o prazer, acompanhe o evento pela TV. A internet está também transmitindo.
Na sala, ligou o aparelho de TV e constatou que eles não blefavam, pois a reportagem transmitida ao vivo mostrava uma gigantesca máquina instalada no deserto de Kalahari, a qual, segundo o jornalista, tinha largura e comprimento equivalentes à de um campo de futebol, e altura de um prédio de dez andares.
–…!
O jornalista, prosseguindo com a reportagem, disse que seria ela quem puxaria a Lua. Deslocaria, através da corrente, cuja extremidade encontrava−se afixada ao satélite. Assim que a Lua fosse deslocada, seria iniciada a contagem regressiva da viagem do satélite natural de encontro ao nosso planeta.
– Meu Deus!
Imagens da festa que acontecia em todo mundo passaram a ser exibidas, quando, então, empolgado, disse o jornalista:
− Na Europa, milhares e milhares de pessoas, nas ruas, bebem, cantam e dançam. Na América, não é diferente. No Brasil, um grande carnaval acontece. A Ásia está também em festa. Enfim, os quatro cantos do mundo comemoram. Brindam, cantam e dançam em festa.
–…!
Alternando o canal da TV, a reportagem exibia matéria sobre a vida de povos primitivos. De repente, imagens ao vivo de festas que aconteciam nos palácios governamentais de todo o mundo foram mostradas. Imagens grotescas foram exibidas, bem como fotos de geleiras dissolvidas e da Amazônia devastada…
–…? − diante dos fatos, mantinha as sobrancelhas unidas…
A figura de uma bela jornalista despida encheu a tela, informou que a Lua já havia sido deslocada e, atraída pela gravidade, começava a viajar de encontro à Terra. Como um louco, correu para a área livre… Dos apartamentos em volta ecoava:
– 98! 97! 96!…
Era a contagem regressiva cantada num único coro em todo o mundo para o choque da Lua com a Terra. Retirou as vistas da contagem regressiva e olhou para a Lua: estava maior… Apreensivo, retornou para o interior do apartamento e, aflito, começou a andar lado a outro: os pais distraiam−se na comemoração da grande vitória. E Rit, também demonstrou contentamento…
– 84! 83! 82!… − a contagem regressiva prosseguia.
A cama era o melhor remédio. Então, deitado, avistava, através da janela, a Lua cada vez maior, e maior.
– 22! 21! 20!…
Suando e tremendo, com olhos fixos na janela, passou em dado momento a avistar apenas uma massa enorme cor de giz se aproximando, e, quando aquilo parecia ir esmagar tudo o que estivesse na frente, desesperado, protegendo−se com as mãos gritou:
– Não!
Sentado na cama, meditou por momentos e sacudiu a cabeça. Calçou as sandálias e levantou−se. Consultou o relógio. Eram 03h15min da madrugada. Dirigindo−se ao banheiro, descobriu o motivo do horror. Sobre o criado−mudo, descansava o livro que estava lendo: “O Homem na Terra”.


ILUSÃO OU FATO?

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