EXPERIMENTANDO O PERIGO

Lúcia, ouvindo a irmã, estava pasmada.


– Alguém sabe disso? – inquire ela.
Cristina diz que ela era a primeira a saber.
– A primeira a saber do descaramento de vocês. Os apartamentos em que ambos residem são praticamente frente um para o outro. Insinuação de um lado, insinuação de outro. Um dia se encontraram no playground conversaram e se ‘amassaram’. O caminho de ambos para o motel foi um passo.
–…
– Quantas vezes foram parar no motel?
– Três vezes.
– Acha certo o que fez com Alberto? É um bom homem; você o traiu.
Cristina confessa que a coisa foi além.
– Além?!
– Gravou os nossos encontros e passou a me chantagear. Trinta por cento de meu salário seria dele.
– Caso não repassasse...
– Enviaria o áudio para Alberto.
Lúcia medita por momentos e questiona:
– A coisa foi além. Trinta por cento do seu salário seria dele e caso não repassasse o valor enviaria o áudio para Alberto. Soam como passado, Cristina.
–…
– Livre do pesadelo?
–…
– Responda criatura. Caso tenha se livrado do inferno, ótimo. Bola pra frente e tratar de aquietar o facho.
Cristina a encara por longos minutos.
– O que há? – pergunta a irmã.
–…
– Arrependida com o rompimento?
–…
Cristina pergunta se ela se recordava do jantar em que Alberto se queixou de ela desconversar sobre a compra do imóvel.
– Lembro-me. Inclusive disse que a proposta do proprietário do imóvel era excelente.
– Como poderia pensar em me comprometer se trinta por cento da minha renda estava confiscada?
– Brincou com fogo, irmã.
Cristina suspira e diz:
– Ainda naquela noite, ao retornamos do restaurante, subitamente me dei conta de que já estávamos dentro das dependências do condomínio onde residimos. Perguntei a Alberto como foi que ele tinha burlado a entrada principal: há guarita com câmera e segurança pessoal. Respondeu que tínhamos entrado pela passagem secreta do Batman… O mau-caráter enviava-me mensagens cínicas. Pretendia conhecer a Flórida e contava com minha ajuda.
– Queria um extra.
– A ideia da passagem secreta não saiu de cabeça. No dia seguinte ao retornar do trabalho, costumeiramente por volta das dezenove horas, experimentei o trajeto e o estudei. O mau-caráter gostava de sanduíche…
Lúcia reflete e empalidece. Cristina percebe e confessa.
– Sim. Fui eu que envenenei.
– Você que envenenou o estudante de medicina? Era com ele que você... Residia no condomínio em que você reside.
– Portanto, Carlos...
– Isso, Carlos.
– ... Acontecia de Carlos tomar a força o sanduíche que seria de Alberto… Então vi naquilo uma ideia.
Lúcia a encara atônita...
− Meu Deus… Quanto tempo tem isso? Quatro meses?
– Quatro messes.
– A polícia?
– Não sei se chegará a mim. O sanduíche foi preparado por mim e embrulhado num papel de uma hamburgueria localizada do outro lado da cidade. Quando adentrei o condomínio pelo acesso principal, a ambulância saía. Escutei de alguém palavras nada animadoras.
Lúcia olha a irmã demoradamente e pergunta:
– Tem certeza de que os vizinhos ignoram o relacionamento que tiveram?
– Éramos discretos. Até o presente momento não fui procurada.
– E agora, Cristina?
– Não sei.


ILUSÃO OU FATO?

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