POR AMOR E HONRA

O investigador, ao passar as fotos para o contratante do serviço, via, nitidamente, nelas retratado, que a jovem mulher e as duas crianças trabalhavam como catadores de papelão.
De posse das imagens, o contratante, pensativo, observa as fotos, minuciosamente, fixando os olhos em cada detalhe.


O investigador, naquele instante, disse ao contratante, Mariel, 29 anos, o maior fabricante de móveis do país, que, obedecendo às instruções recebidas, havia conversado com a senhora Gisélia. Dona de uma fé incrível e de uma resignação sem tamanho. As duas crianças eram maravilhosas. Durante a conversa mantida com ela, os garotos fixaram–na com olhos tristonhos e, ao findar, deram-lhe um abraço de consolo.
Mariel, por sua vez, com olhos marejados, deixou a mesa e se refugiou num canto do ambiente. Minutos depois, refeito, suspirou, sacudiu a cabeça e, voltando-se, contou que haviam se casado, ainda adolescentes. Ao deixá-los, Keli estava com dois anos de idade e Ruff, com sete meses. Lá, as condições de sobrevivência eram péssimas. Um dia, deixara-os para tentar a sorte. Ali, a profissão de marceneiro, herdada do pai, dera certo, e os anos se passaram.
– Sete anos?
– Sete anos... De certo, que sempre estiveram presentes no meu dia a dia, no meu coração. Receando um repentino fracasso que pudesse ter como consequência uma frustração dolorosa e coletiva, protelei esse momento. No entanto, posso perceber, agora, que as coisas estão solidificadas.
– E o seu relacionamento com a senhora Gisélia? – quis dele o investigador.
– E o meu relacionamento com Gisélia! – exclamou Mariel de modo feliz.
O investigador, após pescar na memória a conversa que mantivera com Gisélia disse:
– Resgate esse passado, senhor Mariel. Faço ideia como o receberá. Fiquei encantado com a resignação de sua amada. Disse-me que o senhor havia saído para resgatar algo de bom para eles, e que um dia retornaria.
Ouvindo a fala do investigador, Mariel nada pronunciou, sendo possível perceber apenas que os seus olhos ficaram inundados de lágrimas.
O apartamento da médica, 35 anos, era aconchegante. Todavia, um silêncio desconfortante ali reinava. O motivo, estava nas imagens reveladas nas fotos que repousavam sobre a mesinha de centro.
– Existem reações, Mariel, – disse ela – que levam as pessoas a acreditarem que exista algo de errado com o conviva: ausência em locais agitados, inquietação em locais tranquilos, abafados soluços noturnos, enfim. – disse a médica, enxugando as lágrimas.
– Não mais suportava. – confessou Mariel.
– Pequei em não pedir explicações.
– Você em nada pecou. – retrucou ele.
– Mas você é um verdadeiro homem… Evidente que estou abalada, pois, quem não ficaria? Afinal, nosso relacionamento já havia completado alguns anos… Mas também feliz porque você, ao contrário de muitos, não permitira que a ascensão o tornasse um canalha.
– Seria um homem sem paz.
– Sei que sim.
Esgotada a conversa, ambos se levantaram e, como amigos, se abraçaram, despedindo-se.
– Estou feliz. Estou feliz, sim. – confessou ela.
Mariel, após seis horas de viagem aérea, seguindo a orientação fornecida pelo investigador, batia à porta da humilde casa, tomada por pilhas de papelões. Gisélia, 27 anos, foi quem abriu a porta. Ao vê-lo, atirou-se nos braços dele, envolvendo-o fortemente. Mariel, em silêncio, permaneceu imóvel. Minutos depois, Gisélia, chorosa, afastou-se dele.
– Já jantou, Mari? – quis saber como se Mariel tivesse saído pela manhã daquele dia.
Os garotos olhavam a cena, e Mariel, após entrar, os acariciou, entregando, em tempo, a cada um deles, respectivamente, uma boneca e um carrinho eletrônico.
– Já jantou, Mari? – voltou a o perguntar Gisélia, um tanto atônita.
– Ainda não, Gisélia. – respondeu, observando a reação dos meninos que, timidamente, desembrulhavam os presentes.
– Arroz com ovo frito! – anunciou ela.
– O meu favorito.
Na cozinha, Gisélia percebeu que Mariel tentava lhe dizer algo. Levou o dedo indicador aos lábios e lhe pediu:
– Não quero ouvir nada, Mari. Está tudo bem. Apenas sinto não ter me encontrado perfumada igual a você.
– Ficará, Gisélia. – garantiu ele, acariciando-lhe os cabelos e lhe entregando uma minúscula caixa.
– Oh! Mari! – reagiu ela, admirada, ao abrir a caixinha e ver um par de alianças.
– …
– Você usará também? – quis saber ela.
Cedeu o dedo para que ela introduzisse a aliança.
Horas depois, estava a família numa pizzaria. Felizes, rindo muito, os garotos saborearam, junto com os pais, uma suculenta especiaria da casa.
– Tudo agora será diferente, Gisélia. – garantiu Mariel.
– Não sei a que se refere Mari, mas confio em você.


ILUSÃO OU FATO?

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