ENDY - VIAJANTE DO TEMPO

Andrews dizia a Deli que não sabia precisar se era uma história verdadeira ou se era uma história de cunho fantasioso. Sabia que era gostosa de ouvir.


– … Endy, viajante do tempo…
– Sim… A iniciativa da coletiva partiu de Fabrício, diretor de produção. Disse que ainda se perguntava como foi que Endy havia surgido no estúdio. A aparelhagem estava ligada quando, de repente, escutaram um rouxinol que a explorava. Adentrando o recinto, eis que havia uma jovem ao microfone interpretando Floar, divinamente, e de modo contagiante. Ao findar, ela sorriu e disse se chamar Endy. Naquele mundo, não havia espaço para cochilo. O seu assistente, Piar, o qual o havia acompanhado, boquiaberto, com a extraordinária voz da garota, disse que iria pedir para que ela interpretasse Gessy. Caso fosse aprovada, contataria com Fidelis, pois sabiam que Fidelis tinha oito composições prontas à procura de uma boa intérprete. Fabrício sugeriu que fizesse melhor, ou seja, que colocasse Fidelis na linha enquanto Endy estivesse interpretando Gessy. Tendo sido acolhida a sugestão, Fidelis, em fração de minutos, comparecia ao estúdio. Reuniram−se e solicitaram a imediata presença de toda a equipe de gravação e de produção. Às dez horas e meia, Endy começou a gravar as canções escritas por Fidelis. Então a secretária do estúdio com a palavra contou que foram dez horas de gravação ininterrupta. Encerrados os trabalhos, Endy surgiu na recepção e disse que não ficaria para o jantar festivo e que o senhor Fabrício estava ciente, no entanto retornaria na manhã do dia seguinte. Despediu−se, atravessou a porta e ganhou a rua. Ficou observando−a através da vidraça. Endy parecia sem rumo. Desistia dos trajetos que havia tentado. Olhava para o alto e em volta. Endy, dirigiu-se para o ponto de táxi… Então o taxista contou que a jovem o cumprimentara e lhe solicitara uma corrida para Gont. No entanto, nem chegara a usar as marchas maiores porque ela logo lhe pediu que encostasse o carro, alegando que estava se sentindo mal. Tendo sugerido que fosse ao pronto−socorro, recusou, sob a justificativa de que caminhar lhe faria bem. Para a sorte dele, parou à porta da delegacia, onde dois policias conversavam. A jovem quis pagar a corrida. Recusou. Conhecia o pessoal do estúdio: desejou−lhe melhoras. Ela desceu e ele retornou para o ponto. Assim que um desses policiais assumiu a palavra, confirmou-se a versão do taxista. A garota desceu do veículo e eles, despretensiosamente, observaram-na seguir na semiescuridão. De repente, o colega perguntou: “Você viu?! Ela desapareceu!” Afirmou que tinha visto, porém não entendido. A visão do cenário era praticamente nua: três postes e quatro árvores. Mesmo assim foram verificar, mas não conseguiram encontrá−la… A pedido dos jornalistas, o senhor Zelar, de setenta anos de idade, irmão de Endy, ergueu uma secundária e amarelada página de jornal, datada de cinquenta anos atrás. Contou que Endy era anônima. O seu extraordinário talento musical se limitava ao populoso bairro de Gont. Na curta matéria, viam−se a foto dela e o número de dias de seu desaparecimento. O senhor Zelar, em lágrimas, disse que fora numa tarde de um longínquo dia de semana que Endy beijou a mãe deles e disse que logo retornaria…
– Jamais retornou.
– Jamais. A coletiva encerrou−se, tocando em baixo volume uma das canções escritas por Fidelis:
“Lindo dia vou lhe dizer
Lindo dia vou confessar
Lindo dia vamos sorrir...
... Sorrir e amar
Lindo dia, queira me ouvir
... Transmute em paz.
A flor que colhi
Sabor do sonhar.”


ILUSÃO OU FATO?

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